Não viaja, Letícia! escrito por Rainer Petter

 

Cheguei sem a menor expectativa e não me decepcionei! Encontrei na obra de Rainer Petter uma dose de sensibilidade por meio de ilustrações e uma história contada por mensagens e microrrelatos.

Em “Não viaja, Letícia!” nos deparamos com uma jovem que viaja pela primeira vez ao exterior, a programação previa sua namorada como acompanhante, no entanto, para sua surpresa precisa seguir viagem sozinha e lidar com o término do relacionamento passando por lugares que dias, semanas ou mesmo meses atrás planejaram juntas. Enquanto processa o fim desse relacionamento, Letícia deixa fluir sua escrita relatando a vida de desconhecidos que cruzam o seu caminho.

Fiquei apaixonada por esta história devido a sua estrutura totalmente diferenciada, temos as trocas de mensagens que nos trazem um histórico dessa viagem, os microrrelatos que nos presenteiam com histórias paralelas e claro, as ilustrações que comunicam e complementam o texto. Ao iniciar a leitura, é possível viajar com a personagem para o Uruguai e Argentina, ao mesmo tempo que absorver outras informações de pessoas que encontramos no caminho, eles enriquecem a história com suas próprias vidas.

No entanto, tive a sensação de que a personagem viajou e não aproveitou a viagem, uma vez que passou maior parte dela com o celular na mão trocando mensagem com a amiga, a mãe e buscando respostas da ex-namorada. Isso me incomodou — não de uma forma negativa — mas de uma forma reflexiva, afinal, quantos de nós já realizamos uma viagem que tinha tudo para trazer memórias lindas, mas não aproveitamos o suficiente, pois nossa cabeça estava em nossa casa, problemas e pensamentos? Até mesmo a postura de permanecer com a mão no celular, realizando envio de mensagem ou relendo mensagens antigas, fez com que Letícia simplesmente vagasse, mas não apreciasse aquele momento que estava vivendo. Tanto que chega em determinado momento que as ilustrações tomam uma forma e colocação diferenciada, com tons mais claros e linhas imprecisas simbolizando que por mais que ela olhasse ao redor, nada via, pois estava triste, chateada, com raiva até, perdendo o ambiente ao redor. E certos trechos não é possível distinguir o local que se encontrava, os locais eram borrões — tenho certeza que ao perguntar de Letícia sobre esses lugares ela não saberia informar que local era aquele ou se realmente havia passado por ali.


É muito interessante ver que algumas das pessoas que passaram por Letícia, voltamos a saber delas, vendo o resultado de determinadas ações que foram realizadas inicialmente. Então, de certa forma, temos um início e um fim para esses personagens secundários também, uns divertidos e outros de apertar o coração.

O autor consegue trazer temas como relacionamentos tóxicos sem tocar no assunto, sem abordá-lo diretamente. Ações e trocas de mensagens apresentam a Ju, ex-namorada da Letícia, como uma relação letal para a saúde mental da nossa protagonista, que também precisa lidar com a mãe, com quem claramente não possui uma boa relação — mas aqui ressalto que Letícia também tem seus momentos como pessoa nociva as pessoas que estão ao seu redor. Mas não é apenas com a personagem principal que vemos isso, nos personagens dos microrrelatos encontramos os mais diferentes tipos de relacionamentos fragilizados e até mesmo forçados. O livro pode ser curtinho, mas tem momentos que você percebe que precisa parar para absorver e refletir.

A mensagem mais bonita que se pode encontrar no texto é sobre a importância da empatia e a compreensão, de certa forma muitos personagens secundários viviam fases similares a de Letícia e faziam suas escolhas, da mesma forma como ela fez as dela — vale ressaltar que tinha uma personagem que mostrava muito do sentimento de Letícia em relação a vida, que era aquela que simplesmente estava “tão perdida, quanto eu”, essa frase divertida, nos gera muitos pontos de conexão e do que pensar, afinal, em diversos momento já me encontrei com essa sensação de estar perdida, e você?

O título “Não viaja, Letícia!” é um jogo de palavras muito interessante, pois tanto representada o fato dela não precisar seguir uma viagem que planejou com uma pessoa que a deixou, como também o fato dela não seguir com os devaneios e pensamentos sobre a ex-namorada, ora pensando que reatariam ora pensando diversas coisas negativas sobre a garota.

Na minha humilde opinião...

Essa é uma leitura curtinha, mas de uma sensibilidade inexplicável, com uma proposta diferenciada e que nos apresenta uma realidade atual. “Não viaja, Letícia!” é uma ótima leitura para uma tarde ensolarada e chuvosa, mas não pense que você terminará de ler sem sair no mínimo pensando sobre os assuntos.

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